A primeira individual do artista mineiro Manfredo de Souzanetto em Vitória, ‘Paisagem ainda que, pode ser visitada gratuitamente até dia 30 de agosto, na galeria Matias Brotas arte contemporânea. A exposição conta uma curadoria de obras que vai de desenhos a pinturas, esculturas, algumas delas trazendo uma simbiose entre diferentes materiais e suportes, uma característica marcante do trabalho do artista.
Como bem pontuou o crítico e curador Agnaldo Farias sobre as obras de Manfredo: “uma pintura que abraça a escultura e vice-versa. Elas se completam e ao mesmo tempo se destacam na sua individualidade. Nunca é um suporte passivo e não está ali para ser eclipsado pela matéria cromática.”
Segundo o próprio artista, o nome da exposição foi propositalmente pensado para deixar em aberto o sentido da obra, abrindo um leque de interpretações e significados, ampliando assim a percepção do espectador, que tem um olhar desde os pigmentos naturais às madeiras como também ao formato das obras e a textura da superfície pictórica. “Meu trabalho sempre dialogou com a terceira dimensão e se revela um jogo com a dinâmica da forma e a sua relação com o espaço. Porque a obra é construída, mas a forma definitiva ou temporária dela é determinada pelo espaço onde ela se coloca”, explica Manfredo.
Certamente um dos mais pertinentes e criativos artistas brasileiros contemporâneos, iniciando sua trajetória nas décadas de 70/80, Manfredo desenvolveu uma linguagem específica e personalizada e é considerado um dos mais promissores de sua geração, tendo um amplo trânsito no Brasil onde vem construindo expressivo currículo, e na Europa, onde nos últimos anos tem exposto com regularidade. Os primeiros trabalhos que despertaram a atenção da crítica e do público foram os seus desenhos. Uma série sobre a paisagem mineira acompanhada do slogan “Olhe bem as montanhas”, marcou o olhar de mais de uma geração de mineiros e recebeu crônica especial do poeta Carlos Drummond de Andrade.
A partir dos anos 80 sua obra se desenvolveu como um jogo de virtualidade e concretude, onde muitas vezes a moldura ultrapassa o limite da pintura e o suporte se fragmenta, refletindo a busca de novas possibilidades. Usando pigmentos de terra, óxidos de ferro, resina acrílica, juta e madeira, constrói composições abstratas e geométricas de grande impacto visual; são obras em que a pintura é um dos elementos constituintes e que procuram atuar no espaço real, sem o filtro da representação, buscando a tridimensionalidade.
Há na sua obra um constante vai e vem entre a sensualidade da curva e a aresta viva do ângulo agudo, a vibração da cor e a tatilidade da matéria, onde passamos do surdo ao vivaz, do orgânico ao geométrico, em que as formas trabalhadas em volume como um corpo orgânico abstrato vão criando descontinuidades e variações, permitindo imaginar configurações a partir de uma estrutura fragmentada que invade o espaço, dinamizando-o.
No final dos anos 90 o significado da obra de Manfredo é ampliado pela utilização de materiais não pictóricos cujo objetivo é falar de cor, matéria e textura, vocabulário por excelência do fazer pictural, retirando da pintura seu caráter de superfície colorida. É também um trabalho que situa numa região fronteiriça entre a pintura e a escultura, o plano e o tridimensional, utilizando materiais como madeira, porcelana, vidro, couro, barbante, plástico, metais e pigmentos que vão produzir a cor e a matéria em seu trabalho.
Nas palavras do crítico e curador Agnaldo Farias, “é então necessário que eu defenda a trajetória poética de Manfredo de Souzanetto como uma depurada reflexão sobre a paisagem. Não é que cada obra de Souzanetto represente uma paisagem: cada obra é em si uma paisagem. Cada obra é um território de pequenas dimensões com contornos escondidos e que uma vez fixada numa parede, graças exatamente à sua irregularidade formal e à concretude das suas cores, transborda de seus limites, incorporando-a e perturbando sua frontalidade rígida e vertical”.
Exposição “Paisagem ainda que” de Manfredo de Souzanetto na Matias Brotas arte Contemporânea
Visitação gratuita até 30 de agosto
Matias Brotas arte contemporânea: Av. Carlos Gomes de Sá, 130 – Mata da Praia,
Tel: (27) 99933-8172 / 3327-6966
Horário de funcionamento: de seg. a sexta: 10 às 19h
Instagram: https://www.instagram.com/matiasbrotasarte