Atriz, diretora, produtora e ativista. Esta é Verônica Gomes, a homenageada capixaba do 32º Festival de Cinema de Vitória, que acontece entre os dias 19 e 24 de julho, na capital capixaba. Uma das figuras mais emblemáticas da produção cultural no Espírito Santo, a artista tem uma trajetória expressiva nos palcos e, nos últimos anos, mantém uma relação de proximidade com o audiovisual, além de ser uma presença de destaque na militância cultural capixaba.
Verônica Gomes diz ter ficado surpreendida pelo convite, mas afirma ter sido tomada pela alegria com a homenagem. “Eu tenho um carinho muito grande pelo festival. Mas não esperava essa homenagem, fui pega de surpresa. Acho que todo artista quer ser reconhecido, principalmente em vida. E parece que valeu a pena, sabe? A resistência, a gente não ter desistido. Acho que foi uma das coisas mais lindas que aconteceu na minha vida, no meu tempo de atriz, em quase 40 anos de atuação artística.”
Como parte da homenagem, ela receberá o Troféu Vitória e o Caderno da Homenageada, publicação inédita e biográfica, assinada pelos jornalistas Leonardo Vais e Paulo Gois Bastos, que trata da sua vida e trajetória profissional.
TEATRO
Natural de Aracruz, Maria Verônica do Nascimento Gomes mudou com sua família para a cidade de Vitória aos quatro anos de idade, em 1964. Sua relação com o universo cultural vem desde a infância, especialmente pelo contato com o mundo musical através de seus tios, que eram músicos. A dança, a poesia e o teatro fizeram parte da adolescência e do início da juventude de Verônica. Em 1986, ela estreou profissionalmente nos palcos, com A Gang do Beijo, de José Louzeiro. Nesta fase, conciliou o teatro com a graduação em Comunicação Social (Jornalismo), que ela concluiu em 1989, e atuou como produtora de TV e jornalista na TV Educativa do Espírito Santo.
A partir da sua estreia ela se dividiu entre as funções de atriz, produtora e diretora. Entre os trabalhos como atriz, na década de 1980, estão Eu Sou Vida, Eu Não Sou Morte (1987); Auto de Frei Pedro Palácios (1987); e O Riso (1988), espectáculos dirigidos por César Huapaya; e Negritude (1988), com direção de Vera Viana. Na década de 1990, ela assinou inúmeros trabalhos como diretora de produção, entre eles, Que Droga Não Ter Asas (1992); e Quarta-Feira Lá em Casa Sem Falta (1993), pelo qual recebeu o Prêmio Sated-ES de Melhor Produção. Também esteve presente como atriz em montagens como Grades Suspensas (1996), monólogo que contou com a Direção de Robson de Paula; Palhaço (1996), dirigido por Dácio Lima; e A Mulher Que Matou Os Peixes (1996), adaptação do texto homônimo de Clarice Lispector, em que assinou a direção artística e de produção, além de atuar.
No início dos anos 2000, ela faz uma dobradinha com o diretor Robson de Paula em dois espetáculos: Caso Herzog (2000) e Uma Casa Brasileira Com Certeza (2001). De 2000 a 2010, participou como atriz e diretora artística do projeto Rádio Terra, em que produziu nove textos da autora Margareth Maia, entre eles Nem Todo Lixo É Lixo, Alice No País Sem Maravilhas e Água Fonte da Vida.
Nos anos 2010, participou do projeto Eluzartes e esteve em cena no espetáculo Meu Lugar, Meu Umbigo no Centro do Mundo (2012); e da peça Acabo Ficando, Mas Sempre Querendo Ir (2012). Em 2013, dirigiu Os Tipos Populares de Vitória, com texto de Milson Henriques. Em 2015, foi a protagonista do solo O Mistério da Casa Amarela, livre adaptação do texto “Mulher Sozinha”, de Dario Fo e Franca Rame, com direção de Renato Direnzo. Ao longo dos anos 2010, também participou de inúmeras encenações do Auto de Natal, com encenadores e textos múltiplos, atuando em diferentes funções como diretora artística, diretora de produção e atriz.
Crédito: Andie Freitas/ Acervo Galpão IBCA
CINEMA E MILITÂNCIA
Em 2025, Verônica Gomes atuou no cinema como uma das protagonistas do longa-metragem Margeado, de Diego Zon. Sua estreia no cinema, no entanto, aconteceu em 1993, por trás das câmeras. Foi produtora de elenco e figuração, além de segunda assistente de direção de Sérgio Rezende, no longa-metragem Lamarca. A produção foi filmada no Espírito Santo e estrelada por Paulo Betti.
Como atriz, o início foi nos anos 2000, no curta-metragem Ciclo da Paixão, de Luiz Tadeu Teixeira, retornando aos sets de filmagem em 2004, interpretando a viúva Dona Ana, em Insurreição de Queimado, de João Carlos Coutinho. Em 2012, atuou em Cais dos Cães, de Marcos Veronese. No ano de 2019, foi dirigida por Luiz Carlos Lacerda, em Uma Faca só Lâmina. No mesmo ano, participou de Não Deixa Cair, de Luiz Will Gama; e interpretou a enfermeira Norma, no premiado longa-metragem Os Primeiros Soldados, de Rodrigo de Oliveira.
A trajetória de Verônica Gomes também é marcada pela constante dedicação à produção cultural no Espírito Santo e à luta pelos avanços das políticas públicas no setor. Em 1988, ela participou da fundação do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado no Espírito Santo (Sated), instituição na qual ocupou cargo de direção e chegou a presidir de 2009 a 2012 e de 2013 a 2017. Desde 1988 vem integrando o Conselho Estadual de Cultura do Espírito Santo representando os interesses da classe artística.
De 1988 a 2013 foi Servidora Pública, lotada na Secretaria Municipal de Cultura de Vitória, instituição na qual ocupou diversas funções, entre elas a de Diretora e de Subsecretária entre os anos de 1996 a 2000. Hoje ela, desde 2019, vem presidindo o Centro de Apoio e Memória ao Circo do Estado do Espírito Santo. Administra ainda, sua Empresa de Produção, intitulada, Teatro Du Beco Produções Artísticas Ltda.
O Coral MedSênior é atração confirmada na abertura do espetáculo Ídolos Orquestrados, iniciativa da Orquestra Filarmônica Moderna Brasileira, em homenagem ao cantor e compositor Tim Maia. O Grupo de Idosos vai se apresentar na sessão deste sábado, 09 de agosto, às 16h, no Teatro da Ufes, em Vitória. Ingressos podem ser retirados gratuitamente, através do link disponibilizado aqui.
Com a regência do maestro Juliano Barcellos e direção técnica de Rodrigo CX, o Coral MedSênior vai se apresentar na capital capixaba, cantando duas músicas do atual repertório que tem como tema o Nordeste. “Estamos com a expectativa de fazer uma boa apresentação no ídolos Orquestrados. O espetáculo será um teste interessante para a estreia dos novos coristas no palco e, uma oportunidade deles pegarem experiência para os próximos compromissos da temporada”, disse o maestro.
Coral MedSênior é formado por 50 idosos associados da operadora de saúde que são apaixonados por música. O Grupo nasceu em janeiro de 2024 com a proposta de promover o protagonismo do idoso e fomentar atividades culturais com vistas à promoção da cidadania cultural, bem-estar, da acessibilidade artística e da diversidade.
Projeto Ídolos Orquestrados em Tim Maia – com a participação do Coral MedSênior
Dia: 09 de agosto (sábado), às 16h
Local: Teatro da Ufes (Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras – Vitória)
O 32º Festival de Cinema de Vitória anunciou, na noite da última quinta-feira (24), os filmes vencedores do Troféu Vitória, símbolo máximo do evento, e os contemplados com o Prêmio Canal Brasil de Curtas e o Prêmio Sesc Glória. Durante o evento, foram exibidos 90 filmes selecionados pela Comissão de Seleção – 85 curtas e cinco longas-metragens –, distribuídos em 11 mostras competitivas, que apresentaram um recorte da produção contemporânea do audiovisual brasileiro, com produções realizadas entre os anos de 2024 e 2025.
Na 29ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas, o vencedor do Troféu Vitória de Melhor Filme pelo Júri Técnico foi a produção baiana Na Volta Eu Te Encontro, de Urânia Munzanzu. O capixaba Sola, de Natália Dornelas, recebeu o Troféu Vitória de Melhor Filme pelo Júri Popular. Já o curta-metragem alagoano Entre Corpos, levou os prêmios de Melhor Roteiro e Direção, para Mayra Costa. Fenda, de Lis Paim, levou o Troféu Vitória de Melhor Interpretação (para Noélia Montanhas) e o Prêmio Especial do Júri. Fechando a lista, a produção paulista Arame Farpado, de Gustavo de Carvalho, recebeu o Troféu Vitória de Melhor Fotografia (para Renato Hodja), e O Tempo é um Pássaro, de Yasmin Thayná, levou o Troféu Vitória de Melhor Contribuição Artística.
Sola ganhou o Troféu Vitória de Melhor Filme (Júri Popular) da 29ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas. Crédito: Divulgação.
O Júri Técnico da mostra foi composto pela diretora Gabriela Gastal, pelo produtor audiovisual Izah Candido e pelo ator e cineasta Victor Di Marco.
Na 15ª Mostra Competitiva Nacional de Longas, os grandes vencedores foram a produção goiana Mambembe, de Fábio Meira, que levou o Troféu Vitória de Melhor FilmepeloJúri Técnico e Melhor Interpretação (para Índia Morena). A produção capixaba, O Deserto de Akin, de Bernard Lessa, ganhou o Troféu Vitória de Melhor Filmepelo Júri Popular e Melhor Fotografia (para Heloísa Machado). O longa cearense Centro Ilusão, de Pedro Diógenes, venceu o Troféu Vitória de Melhor Direção e Roteiro (ambos para Pedro Diógenes). O documentário mineiro Brasiliana: o Musical Negroque Apresentou o Brasil ao Mundo, de Joel Zito Araújo, recebeu o Troféu Vitória de Melhor Contribuição Artística.
O Júri Técnico da mostra foi composto pelo ator, roteirista e diretor Heraldo de Deus, pela diretora de arte Joyce Castello, e pela atriz Marcélia Cartaxo.
Também foram entregues o Troféu Vitória de Melhor Filme (Júri Popular e Júri Técnico) para os filmes que participaram das seguintes mostras: 15ª Mostra Quatro Estações, 14ª Mostra Foco Capixaba, 14ª Mostra Corsária, 12ª Mostra Outros Olhares, 10ª Mostra Cinema e Negritude, 10ª Mostra Mulheres no Cinema, 9ª Mostra Nacional de Videoclipes, 8ª Mostra Nacional de Cinema Ambiental e 7ª Mostra Do Outro Lado.
Na Volta Eu Te Encontro, de Urânia Munzanzu: vencedor do Troféu Vitória de Melhor Filme pelo Júri Técnico, na 29ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas.
Prêmio Canal Brasil de Curtas
O Júri do Prêmio Canal Brasil de Curtas elegeu A Invenção do Orum, de Paulo Sena, como o Melhor Filme da 29ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas. A produção capixaba ganhou o Troféu Canal Brasil, além de uma premiação no valor de 15 mil reais.
O Júri do Prêmio Canal Brasil de Curtas foi formado pelos jornalistas Marília Barbosa (IstoÉ), Pâmela Ortiz (Cine Ninja) e Paulo Ernesto (AdoroCinema), que participaram da cobertura do 32º Festival de Cinema de Vitória.
Prêmio Sesc Glória
O Prêmio Sesc Glória, escolhido pela curadoria do Sesc, foi para o filme Mambembe, de Fábio Meira, exibido na 15ª Mostra Competitiva Nacional de Longas. O prêmio consiste no licenciamento por 02 anos para exibição nos cinemas do Sesc Espírito Santo. O Júri do Prêmio Sesc foi formado pelos produtores culturais Gabriel Albuquerque e Leandra Moreira.
Confira a relação completa de premiados do 32º FCV
TROFÉU VITÓRIA – PREMIADOS
29ª MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL DE CURTAS
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Técnico) Na Volta Eu Te Encontro, de Urânia Munzanzu (DOC, BA, 13’)
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Popular) Sola, de Natália Dornelas (FIC, ES, 15’)
Troféu Vitória – Melhor Direção Mayra Costa, por Entre Corpos (FIC, AL, 17’)
Troféu Vitória – Melhor Roteiro Mayra Costa, por Entre Corpos, de Mayra Costa (FIC, AL, 17’)
Troféu Vitória – Melhor Fotografia Renato Hodja, por Arame Farpado, de (Gustavo de Carvalho, FIC, SP, 21’)
Troféu Vitória – Melhor Contribuição Artística O Tempo é um Pássaro, de Yasmin Thayná (FIC, RJ, 18’)
Troféu Vitória – Melhor Interpretação Noélia Montanhas, por Fenda, de Lis Paim (FIC, CE, 23’)
Troféu Vitória – Prêmio Especial do Júri Fenda, de Lis Paim (FIC, CE, 23’)
Menção Honrosa O Panda e o Barão, de Melina Galante (FIC, ES, 16’)
15ª MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL DE LONGAS
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Técnico) Mambembe, de Fábio Meira (DOC, GO, 98’)
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Popular) O Deserto de Akin, de Bernard Lessa (FIC, ES, 78’)
Troféu Vitória – Melhor Direção Pedro Diógenes, por Centro Ilusão (FIC, CE, 85’)
Troféu Vitória – Melhor Roteiro Pedro Diógenes, por Centro Ilusão, de Pedro Diógenes (FIC, CE, 85’)
Troféu Vitória – Melhor Fotografia Heloísa Machado, por Deserto de Akin, de Bernard Lessa (FIC, ES, 78’)
Troféu Vitória – Melhor Contribuição Artística Brasiliana: o Musical Negro que Apresentou o Brasil ao Mundo, de Joel Zito Araújo (DOC, MG, 83’)
Troféu Vitória – Melhor Interpretação Índia Morena, por Mambembe (DOC, GO, 98’)
Menção Honrosa Madonna Show, por Mambembe (DOC, GO, 98’)
15ª MOSTRA QUATRO ESTAÇÕES
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Técnico e Júri Popular) Lacraia Vai Tremer, de Lá Baiano e Jadson Titanium (DOC, ES, 12’)
Menção Honrosa 2 de Copas, de Ana Squilanti (FIC, SP, 18’)
14ª MOSTRA FOCO CAPIXABA
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Técnico) Castelos de Areia, de Giuliana Zamprogno (EXP, ES, 14’)
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Popular) A Última Sala, de Gabriela Busato e Júlio Cesar (DOC, ES, 20’)
14ª MOSTRA CORSÁRIA
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Técnico e Júri Popular) Cavaram uma Cova no Meu Coração, de Ulisses Arthur (DOC, AL, 24’)
Menção Honrosa O Som do Trovão no Deserto, de Diego Zon (FIC, ES, 22’)
12ª MOSTRA OUTROS OLHARES
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Técnico) Guarapari Revisitada, de Adriana Jacobsen (DOC, ES, 13’)
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Popular) Manoel Loreno: Improviso e Paixão, de Enzo Rodrigues (DOC, ES, 23’)
10ª MOSTRA MULHERES NO CINEMA
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Técnico e Júri Popular) Mães, de Bruna Aguiar (DOC, RJ, 22′)
10ª MOSTRA CINEMA E NEGRITUDE
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Técnico) O Céu Não Sabe Meu Nome (Carol AÓ, FIC, BA, 20’)
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Popular) Sebastiana, de Pedro de Alencar (DOC, RJ, 16’)
Menção Honrosa Sebastiana, de Pedro de Alencar (DOC, RJ, 16’)
9ª MOSTRA NACIONAL DE VIDEOCLIPES
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Técnico) humanurbano – Nóis é eternidade, de Fredone Fone. Artista: MC Fredone. 2’50” – [ES]
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Popular) Santo Orixá Guerreiro, de Camila Calmon, Sabrina Repollez e Jeffão. Artista: Monique Rocha. 6’13” – [ES]
8ª MOSTRA NACIONAL DE CINEMA AMBIENTAL
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Técnico) Sobre Ruínas, de Carol Benjamin (DOC, RJ, 17’)
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Popular) Por que Morrem os Rios?, de Dandara Rust Raposo, Luiza Piroli, Maíra Fortuna, Maria Cecília Oliveira e Vanessa Baptista Simões (DOC, ES, 8’)
7ª MOSTRA DO OUTRO LADO – CINEMA FANTÁSTICO
Troféu Vitória – Melhor Filme (Júri Técnico e Júri Popular) Umbilina e Sua Grande Rival, de Marlom Meirelles (FIC, PB, 20’)
Ney Matogrosso: o artista que diz sim à arte e à autenticidade da vida
Homenageado nacional da 32ª edição do Festival de Cinema de Vitória, Ney Matogrosso participou de uma coletiva de imprensa marcada por reflexões sobre liberdade, arte e existência. O Fica a Dica ES esteve presente e compartilha os destaques desse encontro
Por onde passa, Ney Matogrosso não apenas caminha: ele se destaca e reverbera. Aos 83 anos, homenageado nacional da 32ª edição do Festival de Cinema de Vitória, Ney concedeu entrevista coletiva a veículos locais e nacionais, na tarde da última quinta-feira (24), antes de receber sua homenagem em cerimônia no Teatro Sesc Glória. O Fica a Dica ESmarcou presença e conta agora sobre os trechos mais importantes da ocasião.
Já adiantamos: Ney falou sobre a homenagem recebida no festival, refletiu sobre a repercussão do filme Homem com H, dirigido por Esmir Filho, compartilhou memórias, pensamentos e posturas que reafirmam quem ele é: um corpo livre, uma alma inquieta, uma voz que nunca se dobra, independente do tempo e do contexto político-social.
Homem com H
A entrevista não poderia deixar de começar falando sobre o estrondo da produção cinematográfica que retrata sua trajetória. Sobre isso, Ney disparou: “Minha única condição para que o filme pudesse existir é que não tivesse nada que não fosse a verdade”. Em tempo: para quem não teve a oportunidade de assistir o filme Homem com H nos cinemas, ele está disponível na plataforma de streaming Netflix.
Mas, e o impacto da produção? “Virou um turbilhão! Se eu trabalhava 10, agora estou trabalhando 30”, contou. Ele ainda completa: “Recebo muitas mensagens de pessoas que, depois de verem o filme, começaram a viver com mais liberdade. Isso me emociona profundamente. Fico feliz por estimular as pessoas a assumirem a própria verdade”.
Liberdade, aliás, é a palavra que costura cada fase de sua vida artística e pessoal. Seja no palco ou fora dele, Ney sempre foi resistência com um quê de acolhimento. “Somos, cada um, um universo, e precisamos manifestar isso”, afirma de forma firme, mas com sorriso de quem sabe bem como se posicionar perante a vida.
Ney Matogrosso com o Caderno do Homenageado na Coletiva de Imprensa do 32º FCV. Crédito: Melina Furlan/Acervo Galpão IBCA
Censura, desejo e carnaval
Durante a conversa com jornalistas, Ney relembrou os tempos da censura, especialmente nas cenas retratadas no filme Homem com H. Momentos em que a repressão tentava calar a arte, mas, quando se tratava dele, era em vão.
“Era tudo propositalmente pensado. Eu queria fazer um teatro de revista (gênero teatral que surgiu na França na segunda metade do século XVII e é marcado por esquetes de caráter crítico e números musicais com figurinos extravagantes), que era libidinoso”, revelou, reforçando que o erotismo em cena era escolha estética, política e existencial.
Ele ainda relembrou os inúmeros recados que recebia, especialmente do exército, sobre estar “se excedendo” em suas apresentações nos palcos. “Quanto mais diziam que eu não podia me exceder, mais eu me excedia, porque, afinal, esta não é a minha maneira de me expressar? Me ‘excedia’ (entre aspas) para a época, porque hoje em dia isso já não significa tanto”.
Questionado sobre o inédito enredo da Imperatriz Leopoldinense que o terá como tema no carnaval de 2026, ele contou que – após alguns convites e declinações – enfim decidiu aceitar. “Estou dizendo tantos ‘sim’ pra vida, que decidi dizer ‘sim’ para a escola de samba. Não pretendo ir além de mim, vestido de mim mesmo. Mas o contato foi muito positivo. Fui visitar o barracão, aquilo lá é uma loucura. Tudo exorbitante! Não sou um homem do carnaval, mas a festa é de uma disciplina e organização admiráveis”, declarou.
Trecho do caderno do homenageado da 32ª edição do Festival de Cinema de Vitória
Tempo, morte e permanência
Ney completa 83 anos no dia 1º de agosto. Leonino, mas que contraria todo e qualquer estereótipo, rejeita rótulos e as vaidades do mundo artístico. Com o aniversário batendo à porta, foi questionado sobre como será a comemoração, mas revelou: não é adepto de festa. Para ele, esta é só mais uma data. No entanto, não há espaço para melancolia ou saudosismo. Mas há, sim, espaço para uma profunda reflexão sobre o tempo. A morte, para Ney, é uma etapa natural do percurso.
“Não ter aceitação da única certeza que temos? Eu tenho aceitação e penso tranquilamente. Espero que eu chegue lá com calma e serenidade. Vamos viver enquanto podemos”.
O Ney ator e a relação com o Espírito Santo
Perguntado se considera estar no seu auge como ator, foi enfático ao dizer que não tem feito tantas coisas mais regularmente, mas que é satisfeito com o que já fez. “Se houver convites que me interessem, eu faço sim”, completou.
Mas, e o Espírito Santo? O filme Homem com H, por exemplo, retrata que o primeiro amor de Ney era capixaba. A relação com o Estado, porém, sempre foi mais profunda. “Já vim muitas vezes aqui. Conheci muitas pessoas daqui e me tornei amigo delas, principalmente quando saí de Brasília e fui ao Festival de Inverno de Ouro Preto”.
Ele relembrou ainda uma visita ao Mosteiro Zen Budista, em Ibiraçu. “Vim visitar amigos e fiquei lá entre uns 5 e 6 dias. Só que eles não exigiam de mim as formalidades que eles exigem pra quem tá lá. Eu dormia até tarde, não precisava acordar às 5h da manhã”, conta aos risos.
A homenagem no Sesc Glória
À noite, na Cerimônia de Homenagem, comandada por Sarah Oliveira e Simone Zuccolotto, o artista recebeu o Troféu Vitória, símbolo do festival, e o Caderno do Homenageado, além de uma joia exclusiva. A dupla de apresentadoras contou para o público um pouco da trajetória vitoriosa de Ney Matogrosso, que em 2025 comemora 50 anos de carreira solo.
Ney Matogrosso com o Troféu Vitória e a plateia mascarada em sua homenagem. Crédito: Melina Furlan e Vikki Dessaune/Acervo Galpão IBCA
Na sequência, Ney Matogrosso subiu ao palco e recebeu os calorosos aplausos do público. “Estou feliz! Vamos seguir a história, não é isso? Para mim é uma felicidade fazer parte do cinema. Desde criança sempre fui ao cinema, e ficava muito impressionado com as pessoas naquela tela. Lá dentro desejava isso. Foi para mim uma felicidade mesmo. Sou da música, mas sou do cinema também. E estou disponível para ser do cinema, desde que tenha tempo livre”, disse ele, que complementou: “Fico meio envergonhado, meio travado. Mas aceito sim, muito obrigado”.
Outro momento emocionante da noite, foi quando toda a plateia colocou no rosto uma máscara que fazia alusão à maquiagem usada pelo artista na época do Secos & Molhados. Todos vibraram com a energia de Ney Matogrosso.
Na sequência, o público conferiu dentro da Sessão Especial de Encerramento, o longa-metragem Luz nas Trevas: a Volta do Bandido da Luz Vermelha, que tem roteiro original de Rogério Sganzerla adaptado por Helena Ignez, é a continuação do clássico O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Sganzerla. A diretora estava presente na homenagem e subiu ao palco para falar sobre a produção e sua parceria com Ney Matogrosso.
Texto: Thaís Tomazelli
Foto principal:Ney Matogrosso na coletiva do 32º Festival de Cinema de Vitória. Crédito: Melina Furlan e Vikki Dessaune/Acervo Galpão IBCA.